domingo, 31 de outubro de 2010

Desmedido, compulsivo e insensato.
Acontece que uma hora isso tudo tem de amadurecer. Tá que amar desmedido é uma delícia, mas comedimento e racionalidade fazem muito bem, obrigada. Por entre lençóis sujos, eram muitas as vezes em que eu não entendia a minha permanência teimosa naquela cama vazia. Isso bastou até o momento em que não bastou mais. Você me bastou até me faltar. Era um sentimento loucamente desenfreado, que fez o quarto ficar pequeno, o apartamento ficar pequeno, os sonhos ficarem pequenos. No fim das contas, foi você quem ficou pequeno demais pra mim. Me escorria amor por entre os dedos enquanto o destinatário tinha a caixa de correio abarrotada por envelopes ainda selados. Amor em demasia, pra uns, é amor demais. Redirecionei. Aluguei um depósito, depois outro e outro. Não pedi nada de volta, deixei contigo as linhas torpes de um amor que não coube mais em cativeiro. Contigo ainda existem envelopes meus que hoje já não significam nada.
Comigo uma estranha sensação de que nada disso realmente aconteceu, uma seringa de anestésico local me mantém consciente de não mais estar sentindo.

sábado, 30 de outubro de 2010

A prova de que estou recuperando a saúde mental, é que estou cada minuto mais permissiva: eu me permito mais liberdade e mais experiências. E aceito o acaso. Anseio pelo que ainda não experimentei. Maior espaço psíquico. Estou felizmente mais doida também.
Tu sabe que tu faz as pessoas tremerem a voz. Sabe que deixa apenas duas escolhas pras pessoas: te idolatrar ou sair correndo. E como eu não sou mulher de correr da dor, deixo ela entrar as pouquinhos, esbugalhar meus sentidos, enfraquecer meu orgulho. Quando vejo, estou calada novamente, ouvindo o que tu não diz e vendo o que tu não faz. Apenas curtindo a limitação profunda e gigantesca da tua beleza esmagadora. Feliz em ser uma formiga que carrega milhões de plantas nas costas só para ver algum esforço meu te alimentando.
Não gosto de homem que se sente devendo algo ao cosmos. Homem que faz pose de topo de cadeia alimentar mas sofre as dores de uma coluna ainda arredondada pelo começo da evolução. Enfim, tratava-se do homem mais bonito do mundo. E ele veio falar comigo. E eu estava sentada no chão. E ali mesmo trocamos uns beijos e telefones e confissões e eu lembro que, apesar de estar com muito sono e cansaço e desesperança com a vida, fiquei tentando descobrir o que um homem daquele nível supremo de beleza tinha visto numa garota bem mediana que estava sentada no chão em um dos dias de menor brilho de sua carreira social. [...] Ele era tão bonito que me...que me...que...sei lá. Lembro que na hora pensei algo assim “ah, mas vá ser bonito assim lá na puta que o pariu”. E ele foi. 

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

 "Home is where the heart is"  - dizem. E eu concordo. Muito. Ás vezes me pego pensando.Mas pensando mesmo. Aquela coisa fitar algum ponto em meio ao nada e virar meus olhos para dentro da minha cabeça. E o que eu vejo não é escuro. É mais ou menos como um reflexo de tudo que se encontra do lado de fora, só que diferente. Tem gente que do lado de fora pode parecer insignificante, mas que dentro da minha cabeça, quando meus olhos dão meia-volta, são grandes, moram em um altar e dificilmente consigo entender o que elas dizem mesmo quando minha cabeça balança repetidamente para cima a para baixo e minha boca sussura um sim rouco, quase sussurrado. E colocar meus olhos de volta em sua órbita usual dói. Não é um movimento natural. É coisa pra se fazer quase nunca. Mas eu desobedeço, faço toda hora, em qualquer lugar. Dou passos para trás em busca da parede mais próxima. Quando minhas escápulas tocam a parede tão fria quanto minhas mãos, é que reclino minha cabeça para trás até bater, também. Fecho os olhos e eles giram cento e oitenta graus sobre seu próprio eixo. Abro-os novamente. E vejo o reflexo, vejo como são armazenadas as coisas dentro de mim. Vejo como ficou marcado o teu rosto. Aquela primeira vez que te vi. Ouço um trecho da primeira conversa e os risos. Os sorrisos. É por isso que eu tropeço em tudo que me é colocado na frente como obstáculo. É por isso que muitas vezes eu caio. E me machuco. Não porque sou cego (sou apenas míope - e bem pouco). Eu caio porque não estou olhando para frente. Estou perdido em uma caixa redonda cheia de espelhos e monitores. Perdido em memórias e em pensamentos. Todos esses com inúmeras interpretações e caminhos possíveis, a serem seguidos ou não.  Estou sempre perdido. Separando, organizando, hierarquizando. Pra depois juntar tudo entre minhas mãos e jogar pra cima, como se estivesse sorteando envelopes em uma promoção televisionada. Não vejo teu rosto, nem tua maquiagem, nem teus cílios enormes. Você acha que fico me perdendo em detalhes. Mas olho pra dentro de mim. E é daqui que vejo o que tem dentro de ti.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Aí tu tem tudo, todos. Tu tem uma intimidade ímpar, tu manda no que tu sente. Derrepente, tu não tem mais. Tu não consegue mais conversar. Tu é íntimo da solidão. Tu não ouve nada, não vê mais nada. Eu não poderia prever. Tu não me vê, mas eu te curto. 
Hoje em dia me pego gostando cada vez menos dos documentários, pulando de cabeça num mundo ficções, de aventuras. De cabeça mesmo. Coadjuvantes vem e vão, e eu gosto mto de contracenar. Uns vem e nem se vão. Ficam por aí, até que surja uma nova cena para eles estrelarem. É, passei a encarar os dias como se fossem cenas, as horas como se fossem takes, os momentos como se fossem quadros. E não é tão legal quanto parece. É que assim eu acabo deixando passar despercebidos momentos não-cinematográficos, mas que, nem por isso deixam de ser bonitos. Pra quê ficar forçando? Um simples beijo é substituído por um amasso na mais torrencial das chuvas, numa parada de ônibus aleatória na Av. Paulista. Um pedido de desculpas vira um EP. Enfim, é uma pressão infinita, pra extrair de todo e qualquer momento o mais intenso dos sentimentos. Cansativo. Suspeito que isso seja culpa das músicas, da abordagem que eu uso nos meus relatos, desse super-realismo-exagerado. Mas, mesmo assim, eu continuo. Firme e forte. Diretor, produtor executivo e roteirista do filme da minha própria vida. Nada mais justo (e rentável) do que dar a ele um andamento coeso, e cativante. Procuro sempre ser cativante. E isso também cansa. Mesmo reclamando de tudo isso, prefiro permanecer assim. Prefiro distribuir VUADÊRAS e PONTA-PÉS por aí, trajando um belíssimo calção PERUSSO do que ser coadjuvante de uma história que está totalmente fora do meu controle, um mero espectador, ausente, impotente. Posso não controlar, mas quero protagonizar isso tudo, de cabo a rabo. E ninguém vai tirar de mim esse papel, afinal, O FILME É MEU, POMBAS.

domingo, 24 de outubro de 2010

Seria o que está a sua frente algo que não deva ser visto? Acho que não. Ele não vê porque ele é assim mesmo: péssimo, eternamente um zero à esquerda em relações interpessoais de qualquer ordem. Essas limitações não são incuráveis. Mas ele não tem interesse em se tratar. Curar. Não tem. É descrevendo as desventuras e as histórias que ele vive. Justamente por ser tão limitado, que ele faz seus dias passarem cada vez mais rápido, levantando suspeitas de que eles são todos iguais. Eram dois olhos semi-cerrados. Eram muitas imagens, centenas, milhares, atrás daqueles olhos. E através da minúscula fresta que havia entre suas pálpebras, pude ver dúvidas. Pude ver seguidos momentos de sonhos acumulados, horários a cumprir, problemas a resolver. Eu só procurava felicidade naqueles olhos. Me esforçava para proporcionar isso, e rápido. Queria ser inesquecível.

sábado, 23 de outubro de 2010

Se eu sair do seu lado e caminhar para um canto de onde eu possa observar tudo, não se preocupe. Não aconteceu nada. Não comigo. Aconteceu com tudo ao meu redor. Desse canto escuro, te observo, estudando a língua dos olhos.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso ás vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como ''estou contente outra vez".
''(...) Me recordei rapidamente de todas as pessoas e coisas que perdi por ainda não estar preparada para elas, ou por ainda ter muita curiosidade de mundo e dificuldade em ser permanente. Recordei de amigos e parentes distantes, aqueles que eu sempre deixo pra depois porque moram muito longe ou acabaram se tornando pessoas muito diferentes de mim, sempre penso “mês que vem faço contato com eles”. E se não tiver mês que vem?..."
E pensar que se você lê, meu amor, eu escrevo. E se você lê, meu amor, eu como. E se você lê, meu amor, eu continuo viva. É triste, mas se a gente pensar com carinho, é bem bonito.
Ao mesmo tempo a gente dá a mão. E dá a outra. E daria uma terceira se ela existisse. E você fala com a voz mais baixa do mundo que não queria ter de ir embora. E eu te peço, com a voz mais baixa do mundo, pra você ficar mais uma semana.

domingo, 17 de outubro de 2010

Não ruiria de repente se você olhasse um pouco mais para mim.
Meses depois, terminado o namoro sem beijos de despedida, saio do carro trancando o choro, ainda que o rompimento tenha sido resolvido de comum acordo. Abro a porta e já estou com uma perna pra fora quando ouço, sem nenhuma aflição por mim, apenas consciência de que não teríamos mais notícias um do outro: te cuida. Me cuidei. Só chorei quando já estava dentro do elevador.
Eu sou parte de você, você não é parte de mim. Do meu passado você faz pouco caso, mas, só pra você saber, me diverti um bocado e com você por perto.
"A verdade é que mais cedo ou mais tarde você será traído, porque todo mundo tem medo de viver a entrega. A verdade é que ninguém se entrega porque ninguém se tem. A verdade é que não estamos aqui, estamos em algum lugar seguro vivendo nossas vidas medíocres. A verdade é que todo esse perfume é vergonha de nossa essência, todas essas marcas são vergonha do nosso corpo, todo esse charme despretensioso é vergonha de nossas fraquezas. A verdade é que nada é inteiro porque até o inteiro para ser todo precisa ter seu lado vazio. A verdade é que não dá para fugir da dor, e eu continuo correndo, correndo, correndo e não saindo do mesmo lugar."
Exagerada toda vida, minhas paixões são ardentes. Minhas dores de cotovelo, de querer morrer. Louca do tipo desvairada. Briguenta de tô de mal pra sempre. Durmo treze horas seguidas. Meus amigos são semi-irmãos, meus amores são sempre eternos e meus dramas, mexicanos!

sábado, 16 de outubro de 2010

E no meio da noite, quando eu decido que estou ótima afinal de contas tenho uma vida incrível e nem te amava mesmo, eu me lembro de umas coisas de mil anos e começo a te amar de um jeito que, infelizmente, não se parece em nada com pouco amor e não se parece em nada com algo prestes a acabar. (...) Lembro do quanto eu achava bonitinhas as tuas inseguranças e inexperiências, e o quanto essas inexperiências tornavam as coisas mais divertidas, seja nos pequenos incidentes ou quando nós quase destruíamos as coisas. Lembro das nossas conversas, apesar de eu nunca falar muito, nas quais eu me sentia tão sincera e tão livre, pelo fato de tu dividires as tuas coisas comigo.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Sim, eu sei muito bem de todos os pesares e os malefícios de trocar o sol pela lâmpada incandescente, mas também sou capaz de perceber a sensação de liberdade que existe quando minha sombra se perde na penumbra. E são raríssimos os momentos em que estou tão sozinha a ponto de ouvir meus batimentos cardíacos. Basta fechar os olhos. É na escuridão que eu tento encontrar tudo aquilo que eu perdi achando que, ao te encontrar, eu não precisaria de mais nada. É na mesma escuridão que eu tento te ajudar. Esse pedaços de mim espalhados pelo caminho são pra você se guiar. Mas você recusou ajuda, você recusou ser ajudado, e você recusou o que eu tinha pra te oferecer. Pra você foi pouco, tudo que foi feito, tudo que foi dito, foi pouco.
 Desconcentrada, agarro-me ao trinco da primeira porta que eu encontro. E sempre acabo no mesmo quarto, na frente do mesmo computador, ouvindo as mesmas músicas, ínsone.
''Toda vez que toca o telefone eu penso que é tu. Toda noite de insônia eu penso em te escrever pra dizer que o teu silêncio me agride, e não me agrada ser um calendário do ano passado. Pra dizer que teu crime me cansa, e não compensa entrar na dança depois que a música parou.''

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O mala do cara dos meus sonhos não tem o desenho da sua boca: com mais tinta do que contorno. O homem perfeito é um puta de um chato com seus cds cults e cartazes de filmes europeus pela sala. Você com aquele seu vinil incansável do Bob Marley é muito divertido, porque a gente briga até não agüentar mais por causa dele. E a gente vai por aí, se completando assim meio torto mesmo. E Deus escrevendo certo pelas nossas linhas que se não fossem tão tortas, não teriam se cruzado...
Nunca me conformei com o fim de nada. Por mais que eu sentisse que era a hora. Por mais que eu quisesse ou precisasse me livrar das coisas. O “acabou” sempre chega ou chegou como se eu jamais tivesse parado pra pensar nele. Cruel, terrível e doloroso além de mim.
Claro que eu adoro minha casa, minha família, meus amigos, meus livros, músicas. Tenho uma vida ótima. Mas nenhuma dessas coisas se comparava ao prazer que eu tinha ao ouvir o barulhinho de uma mensagem dele chegando. Ou de quando o telefone tocava e eu sabia que era ele e o meu coração disparava tanto que eu tinha medo de morrer antes de falar: alô.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

''Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo à porta.''
Tchau, dissera ele. E eu ouvi como se fosse um te amo.
"Não subestime os outros, nem os idolatre demais. Seja educada, mas não certinha. Não minta, nem conte toda a verdade. Dance sozinha quando ninguém estiver olhando. Divirta-se enquanto seu lobo não vem."

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Mas eu não podia, ou podia mais não devia, ou podia mas não queria ou não sabia mais como se parava ou voltava atrás, eu tinha que continuar.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

É vontade de sentir aquela coisinha misteriosa de "é esse!". Como será sentir isso? Eu sempre sinto que "pode ser esse, ou talvez com algumas mudancinhas possa ser esse ou talvez se ele quisesse, poderia ser esse...". Não, isso tá errado. Quero sentir que "é esse".

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

C: Eu nunca devia ter te abandonado. Soube que tomei a decisão errada assim que o seu avião decolou. Eu me distrai o verão inteiro, esperando não sentir isso. Mas eu ainda sinto. 
B: E?
C: Eu estava com medo. Com medo de que ficassemos o verão inteiro juntos, só a gente e você iria ver.
B: Ver o que? 
C:Por favor, não vá com ele.
B: Por quê? Me dê um motivo. E "Eu sou Chuck Bass" não conta.
C: Porque você não quer.
B: Não é suficiente.
C: Porque eu não quero também.
B: Não é suficiente.
C: O que mais é?
B: O motivo verdadeiro para eu ficar onde estou e não entrar no carro. Três palavras. Oito Letras. Diga e eu sou sua.
C: Eu.. Eu..
B: Obrigada. Isso era tudo o que eu precisava ouvir.